Eu & Mim Mesmo, de Flávio de Souza.

O livro Eu & Mim Mesmo foi uma das obras analisadas em minha pesquisa de mestrado. Trata-se de um texto que intenta retratar o drama de um garoto em conflito consigo mesmo, buscando compreender o comportamento humano e a relação homem-sociedade.

A personagem principal, Luís Fernando, é um menino que se encontra no limiar: entre a culpa e o arrependimento, entre a obediência e a desobediência, entre as pulsões naturais e sociais, entre o prazer e o dever. Dessa forma, encontra-se dividido entre dois EUS: o Luís, menino educado e obediente, e Fernando, menino teimoso e desobediente.

“Era uma vez eu, o Luís. Desde pequeno eu ouvia uma voz que vinha da minha cabeça. Eu queria fazer tudo bem direitinho, ser obediente, um bom menino. Quando minha mãe falava assim: “Não põe o dedo na tomada”, eu não punha. Ficava olhando com vontade. Mas me segurava. Então vinha aquela voz e falava assim: “Põe o dedo sim, bobo. Não vai acontecer nada! Aí eu punha o dedo e levava o maior choque. Minha mãe me batia e gritava: “Eu não disse para você não pôr o dedo?” Eu tentava dizer para ela que não tinha sido eu que tinha tido a ideia. Mas ela não acreditava. Eu fazia tanta coisa que sabia que era errado! Desobedecia, cismava, mentia, bagunçava, brigava, respondia. E por culpa de quem? Adivinhou! Do Fernando, esse menino maluco que mora dentro de mim”.

A narrativa expõe os conflitos gerados pelo processo de formação do indivíduo e de adaptação à sociedade, buscando reforçar a ideia de que o homem é um ser complexo que precisa alcançar o equilíbrio entre a sua natureza e a arbitrariedade social e cultural a fim de alcançar a completude. Assim, a obra segue uma perspectiva junguiana, evidenciada pelas ilustrações de Walter Ono, em preto e branco, que representam os contrastes da mente humana: luz e sombra, consciente e inconsciente.

Seguindo esse raciocínio, a repressão do eu-interior, de seu lado desobediente, só viria a acarretar a “perda de si mesmo”, desumanizando-o. A solução seria, então, a busca pela integração da personalidade, por meio do processo de autoconhecimento, aquisição da consciência de Si mesmo e do Outro, numa interação harmônica do indivíduo com a sociedade:

“ O Luís sem o Fernando era bobo, coitado”.

Muito linda essa obra! Vale a pena conhecer!

SOUZA, Flávio de: Eu & Mim Mesmo. São Paulo: Quinteto Editorial, 1987.

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