Decorava a árvore como se buscasse organizar a própria vida. Dispunha os enfeites numa ordem simétrica, seguindo uma precisão quase matemática. Bolas e anjos. Estrelas e laços. Às vezes, afastava-se para mirar a árvore e verificar possíveis falhas, que deveriam ser rapidamente corrigidas. “Não quero buracos”, dizia para si mesma, enquanto acrescentava mais e mais bolas de natal. Só ela conhecia a ordem que deveria seguir para não dar espaço a espaços vazios. Mas a árvore não ficava do jeito que queria. Tinha a impressão de que estava sempre inacabada: era o vento que batia e derrubava um enfeite, o filho que retirava escondido uma bola para brincar, uma estrela que perdia o seu brilho, uma luz que se apagava. Então, gastava seu tempo cobrindo os buracos que teimavam em surgir.
Assim passava todos os finais de ano, com uma expressão vazia no rosto, como quem guarda um sentimento incompleto. Assim ela ficava com a chegada do Natal, ou porque não conseguia olhar para o todo, ou porque dava demasiada atenção às ausências.
-Adriana Araldo