Sorriso de pano
Quando não aguentava mais, dava um jeito de ficar sozinha.
E, no escuro, fazia bonecas de pano com os trapos que ia guardando.
Bonecas de sorriso
largo que viviam ali, na clandestinidade.
Ah… se fossem descobertas!
Acabariam queimadas ou cortadas em pedaços.
Tem gente que não suporta a alegria dos outros. O sorriso de pano era a única forma de vivenciar a felicidade.
Uma estratégia para a alegria não cair no esquecimento. Era preciso treinar o riso com o sorriso alheio. Como quem cultiva um sentimento imaginado. Assim, pensava.
Sabia que a alegria viria mais uma vez. Uma dessas certezas que não se sabe explicar.
Mesmo que para isso tivesse de costurar um sorriso no próprio rosto.
-Adriana Araldo