Um Belo Lugar, de Alexandre Rampazo

Belo lugar

Em Um Belo Lugar, Alexandre Rampazo usa de delicadeza para tratar de um tema bastante dolorido: a morte. Para tanto, retoma simbologias e narrativas da tradição oriental, japonesa e chinesa, do pássaro grou, ave sagrada, revelando suas angústias diante das perdas sofridas.

“Ela disse que na lenda, que sua mãe lhe contou e que era a mesma lenda que a mãe da mãe dela havia contado, esse pássaro com suas poderosas asas, levava para um Belo Lugar as almas dos que partiam.”

Conforme a tradição japonesa, o grou seria o responsável pelo transporte das almas a um Belo Lugar. De imediato, o leitor não reconhece a imagem. À medida que a narrativa avança, o leitor vai construindo a representação de um grande pássaro, imagem que, ultrapassando as dimensões da folha de papel, vem sugerir a proximidade de nossos tempos com a morte, e com uma dor, sem tamanho, daqueles que sofreram perdas. Página a página, segue o grou em voo, distanciando-se, batendo suas grandes asas. O leitor pode acompanhar a viagem do grou num lindo céu azul, enquanto a ave se transforma num tsuru que se desdobra em reflexões:

“Como o grou vai fazer quando a alma dele mesmo tiver que ser levada a um Belo Lugar?”

A obra oferece, aos seus leitores, espaço a reflexões. E, por meio do diálogo intertextual com a lenda japonesa, reforça a transmissão de narrativas através das gerações, ao mesmo tempo em que o narrador encontra abertura para revelar seus sentimentos e o desejo de longevidade, num processo de ressignificação de Um Belo Lugar:

“O dia em que eu tiver um filho, vou contar pra ele a mesma história que minha mãe me contou e que a mãe dela contou pra ela. Mas também vou dizer ao meu filho que um belo lugar é estar aqui, ao lado dele.”

Muito lindo isso!
Vale a pena conferir:

Rampazo, Alexandre. Um belo lugar. São Paulo, VR Editora, 2019.

Deixe seu comentário!

Inscreva-se
Notificação de
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários